Somos Todos Especiais
Há dez anos recebi
um presente divino que mudou definitivamente a minha vida, mas no início esse
presente não parecia tão bom assim! Em verdade eu achava que estava sendo
punido pela vida e que todo o futuro que eu havia cuidadosamente idealizado se
esvaia em sofrimento, angústia e incertezas!
Naquela época
minha esposa e eu não compreendíamos porque nós havíamos sido escolhidos para
carregar o que parecia uma penitência sem fim. O desespero tomou conta das
nossas vidas e arrastou junto as nossas famílias para o mesmo limbo de dúvidas,
tristeza e desilusão!
E o sofrimento
persistente foi implacável com os nossos corpos, com as nossas mentes e com os
nossos corações! Adoecemos física e espiritualmente, e a depressão, em maior ou
menor grau, passou a ser uma constante nas nossas vidas! E até Deus pareceu ter
nos abandonado tamanha a desesperança que nos abatera impiedosamente!
Mas a despeito de
tanto sofrimento, seguimos o curso que a vida havia nos predestinado! E o
primeiro momento desta árdua caminhada foi marcado por uma busca insana,
desesperada e urgente por respostas e soluções! Acreditávamos que tudo não
passava de um grande equívoco e que se nos doássemos além do máximo
reverteríamos o quadro e a “normalidade” seria, enfim, restabelecida!
E o resultado
desta busca inicial desesperada foi mais adoecimento, mais sofrimento e mais
desilusão, porque não havia equívoco nenhum e porque nós não poderíamos mudar o
imutável! E sem sobra de dúvidas, esse foi o período mais difícil desta
caminhada: aceitar que a nossa filha era uma criança com necessidades
especiais!
Durante muito
tempo tentamos esconder o óbvio das outras pessoas, tentamos manter em família
esse “segredo inviolável” sob o argumento de proteger a nossa filha do
preconceito e do estigma da sociedade ignorante! Mais uma luta perdida,
esconder o que saltava aos olhos e tentar se adaptar á ignorância alheia! A
ignorância se suplanta pela força da informação e pela magnitude de uma causa!
Eis que como um
passe de mágica. Num dia que não sabemos precisar qual, uma resignação
acalentadora nos fez enxergar as coisas como elas realmente são: fomos
presenteados com uma filha com necessidades especiais porque somos pessoas
especiais! E cada dia das nossas vidas como pais, até então sofredores, fez de
mim e da minha esposa ainda mais especiais! Nos ensinou coisas que de uma hora
para outra afloraram nas nossas consciências! E quando olhamos para trás vimos
o longo caminho percorrido!
A “aceitação” foi
o remédio mais poderoso que poderíamos experimentar sob os nossos corpos e
mentes adoecidos! Realmente, um santo remédio poder gritar para todo mundo
ouvir: eu sou pai de uma autista e ponto final! Ou melhor, ponto seguimento,
porque a partir daí tudo mudou e para melhor!
Encontramos força
aonde menos poderíamos imaginar…no próprio autismo! Ou seja, somos pais de uma
autista e isso faz da gente guerreiros, e os guerreiros são fortes, destemidos
e, sobretudo vencedores!
E a nossa vitória
nada mais é do que a felicidade dos nossos filhos, e essa vitória já nasceu
garantida, afinal de contas, o que é que um filho pode querer da vida, se não
nascer numa família que o ame incondicionalmente, que lute pelo seu bem estar
com todas as forças e que o aceite como ele é!
O meu presente
divino se chama Carolina, hoje com 10 anos, autista de nascimento e muito feliz
por causa da família especial que Deus deu para ela! E a minha filha não vive o
”mundo dela”. A minha filha vive o mundo de amor que a envolve e que certamente
ultrapassa toda e qualquer barreira que aparentemente possa existir!
José Carlos
Pitangueira Filho
pai de uma autista
Fonte: http://blogmundoazul.wordpress.com/